domingo, 21 de novembro de 2010

MUSEU OU ANTIQUÁRIO...tudo vale a pena, mas...

Transcrevo abaixo texto e fotos de e-mail do meu grande amigo poeta Elmar Carvalho. Acho interessantíssimas as iniciativas que começaram na cidade com o Museu do ZéDidor e hoje se sabe da existência de pelos menos mais outros. Resta saber a diferença entre o que seria museu e antiquário, porque cada um tem características bem específicas e confundí-los entre si talvez não seja correto. Outra questão interessante ligada a esses "museus" ou "antiquários" na cidade e municípios vizinhos é o problema da socialização desses acervos. O do ZéDidor e o do Professor Assis Lima (em formação), não me consta que sejam ou serão abertos a quem queira compartilhar o acervo de fotografias, por exemplo. Ouso provocar a discussão sobre, perguntando:de que me adianta juntar e organizar um acervo de fotografia, para tão-somente me vangloriar de tê-los comigo sem nenhuma intenção de socializá-lo? Tem "museu" aqui que tem até documentos públicos que, legalmente, não deveriam estar ali...
Legal ver, legal organizar, mas será pedir demais que se pense em socializar esses acervos de forma justa para quem cria esses acervos tanto quanto para quem quer acessá-los?
"Caro amigos e conterrâneos,
Vejam abaixo e no meu blog >>>>>>>>> http://poetaelmar.blogspot.com/
a matéria que publiquei sobre o museu
do senhor Antônio Conrado.
Vale uma visita.
Atenciosamente,
Elmar Carvalho




Antônio Conrado, proprietário do museu e do sítio Boa Esperança

16 de novembro

O MUSEU DO SÍTIO BOA ESPERANÇA

Elmar Carvalho
Através do mais recente número da revista Nossa Gente, editada pelo jornalista Raimundo Belchior Neto, tomei conhecimento da existência de um museu, instalado no sítio Boa Esperança, de propriedade do senhor Antônio Conrado. Decidi que em minha primeira viagem a Campo Maior iria conhecê-lo, fato que aconteceu no domingo. A reportagem informava que o sítio ficava no quilômetro 29 da estrada que vai para Barras. Como meu pai não tivesse conhecimento a esse respeito, consultei o Dedé, vizinho de sua casa na rua Capitão Félix, perto do estádio. O Dedé simplesmente sabia tudo e foi preciso nas informações. Disse que o sítio ficava perto da estrada, e era de bom e fácil acesso. Com esse esclarecimento, em companhia do Antônio José, meu irmão, e do amigo Zé Francisco Marques, dirigi-me para lá. Fui recebido cortesmente pelo pr oprietário. A antiga sede da fazenda é como se fizesse parte do museu, com o seu babaçual, suas grandes árvores e plantas ornamentais, e a gruta onde está entronizado o santo da devoção dos donos da casa. O museu propriamente dito fica num prédio próximo, independente. Ali estavam antigos móveis e objetos, que eu já não via há muitos anos; objetos que foram úteis e preciosos, mas que se tornaram obsoletos ou fora de moda, com as novas invenções e a mudança de gostos e costumes. Numa prateleira estavam enfileirados rádios de vários modelos, alguns a válvula, além dos famosos Semp e ABC. Este último ostentava o seu slogan “a voz de ouro”, que marcou gerações. Sobre uma rústica bancada estavam enfileirados vários ferros de engomar, a carvão, que ainda alcancei em pleno uso. Entre outros objetos, vi baús, bilheiras e um grande e pançudo pote. Recordei os velhos petromax, que iluminavam as noites sertanejas. Entre os objetos artesanais e mais rús ticos, havia um imenso pilão horizontal, de vários furos; um corró, que é uma armadilha de varas para pegar peixes; uma tora de madeira oca, em cujo interior havia uma armadilha para prender pebas e tatus. O senhor Antônio Conrado, em conversa, contou que havia vendido alguns dos objetos, mas depois os comprou de volta, para o acervo do museu. Revelou que um dos novos proprietários se recusou a fazer a retrovenda de um móvel; disse preferir doá-lo, para que seu nome constasse na ficha de identificação da peça. O engraçado é que esse proprietário tem o sobrenome Grosso, mas pelo visto trata-se de pessoa fina e educada, para ter essa sensibilidade e percepção. Contemplei uma grande e velha cadeira de outrora. Era numa delas, sem dúvida, que os coronéis da carnaúba, do tucum, do babaçu e demais produtos do extrativismo e do gado ditavam suas ordens e suas leis, num tempo mais simples, em que não havia tanta pressa e tanto estresse. É certo que alguns desse s objetos existiam na casa de meus pais, mas foi um prazer reencontrá-los, para poder viajar ao país de minha infância.

Na ida e na volta, vimos algumas secas cabeças d' água do Surubim, como disse Dobal, num de seus poemas. São riachos temporários, que, nas grandes invernadas, extravasam suas águas, após dois ou três dias de boas chuvas, mas que, tão logo estas cessem, param de correr, quase instantaneamente, deixando um leito de pedras e areias, sem nenhuma poça d' água. Vimos as Extremas, de nome tão sugestivo e poético. Numa época em que todos têm o seu carro ou sua motocicleta, em que as distâncias encurtaram demasiadamente, já não entendemos a razão desse nome tão extremado. Passamos pelas Areias, do falecido fazendeiro Zé Pedro. Ele era um dos coronéis da pecuária e do extrativismo. Numa época em que poucos podiam comprar um automóvel, ele sempre teve o seu, com motorista particular. Gostava de tomar, de leve, a sua cerveja, num dos barzinhos da cidade, sozinho, a ruminar seus pensamentos. Para que se tenha uma ideia de suas posses e cabedais, basta que eu diga que ele, em companhia de sua mulher, ia ao exterior, para assistir à Copa do Mundo de Futebol, numa época em que viajar de avião era um misto de aventura, luxo e glamour. Antes do bairro Flores, de nome poético, florido e cheiroso, no sentido de quem vai de Cabeceiras para Campo Maior, nos deslumbramos com a alcatifa das suaves colinas e com os tabuleiros de capim mimoso, onde as ovelhas pastam placidamente. Nessa paisagem ainda podemos ver os galopes dos potros e ouvir o relincho das éguas e o canto alegre dos bem-te-vis. Ao longe, podemos vislumbrar o debrum do perfil azulado da serra a se recortar contra o azul do céu e o branco das nuvens. E o pensamento vaga e divaga por essas quebradas encantadas.

4 comentários:

  1. A discussão sobre o assunto é muito interessante mas não avança porque existe problemas ligados à forma como preconceituosamente, a meu ver, a maioria das pessoas que trabalham com cultura na cidade, vêem o Museu do ZéDidor. As críticas a ele e seu museu são muitas e algumas até são fundadas outras nem tanto. A mais pertinente é sobre a cobrança que ele faz para abrir seu museu a visitantes. A outra é de que o museu é desorganizado e parece mais um amontoado de coisa velha. Sou amigo pessoal do ZéDidor, converso com ele de vez em quando, mas não consigo ajudá-lo mais porque ele muito dificil de se lidar porque não escuta muito o que os outros lhe dizem. Já chegou a tratar de forma muito grosseira pessoas que não merecia. A questão da cobrança, principalmente de grupos de alunos de escola pública, poderia ser feita de forma mais planejada e previamente combinada para que não aconteça de chegar um grupo de alunos e não conseguirem ver o que queriam por não ter havido um previo acerto sobre horário, preço cobrado, enfim, detalhes que a visitação de qualquer local público, pra ser proveitosa, tem que ter. Coisa simples, mas que funciona. ZéDidor reclama que não tem ajuda do poder pública, uns dizem que recebe ajuda da prefeitura, que ele nega. Mais de uma pessoa já tentou ajudá-lo fazendo projetos, tentando organizar a burocracia de sua fundação, já houve até o caso de um recurso do Minc, que foi liberado mas não recebido porque a documentação da entidade não estava regularizada, algo em torno de mais de 60 mil reais. Tem jeito o Museu do ZéDidor? Tem, mas a coisa emperra nas falta de disposição das partes interessadas em encontar esse jeito...

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  2. Conheci o Elmar Carvalho há dois anos através da Coluna do Buim do jornalista esportivo Severino Filho de Teresina quando eu vi publicada uma crônica esportiva do Elmar em seu livreto O Pé e a Bola onde narra fatos do futebol interiorano de Campo Maior e Parnaíba nos anos 70 e dos seus primeiros ensaios literários no Jornal A Luta. Sou um leitor zeloso pelas suas crônicas e textos no seu Blog, ultimamente estou lendo Rosa dos Ventos Gerais do mesmo autor, parabéns ao ilustre rapsodo campo-maiorense.

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  3. E ai nós podemos dizer que não se trata nem de uma coisa e nem de outra. Um é uma coleção particular vamos dizer um xodó. O outro lá é uma espécie de ferro velho com algumas coisas que podemos chamar de relíquia. E cadê as peças do antigo museu do couro que funcionava naquele bonito e imenso casarão onde é hoje o Comercial carvalho?

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  4. Te garanto uma coisa, Osvaldo: não estão aqui em casa, não... A única peça de museu que tem aqui até tu desconfia quem é... rs rs rs kkkkkk ou quááááá

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