A entrevista era para ter saído no primeiro número da revista NOSSA GENTE, mas só saiu no segundo e, a pedidos, agora aqui.
Talvez com saudade de seus verdes anos passado na cidade em que nasceu, o artista gráfico Netto de Deus, resolveu um dia falar de sua Campo Maior lá de onde reside há quatro anos. Fez um blog para falar de sua história e de seus costumes. Sucesso absoluto. Campomaiorenses de todos os lugares do país e do mundo o acessam e deixam comentários onde falam de suas saudades e do que fazem onde vivem, entre outras coisas. Dos comentários saem brigas e polêmicas, insultos e ofensas que obrigaram Netto a se utilizar do recurso da moderação para evitar que o risco de ameaças de morte por motivos quase fúteis, acontecesse. Para falar dessa experiência, lá da fria e gelada Curitiba, Netto respondeu ao questionariozinho que lhe fiz daqui desses tórridos dias de b-r-ó bró...Em tempo: a matéria era pra ter saído no primeiro número, mas não foi... (ZAN)
ZAN - Netto, como tudo começou?
NETTO - Sempre tive vontade de fazer algo que deixasse impresso, não só os bons tempos dos anos 70, mas também da história recente de Campo Maior, que as máquinas fotográficas puderam registrar. Ou seja: ou eu faria um livro, ou uma revista que, convenhamos, também seria uma tarefa bem difícil, mas que nunca me saiu da cabeça. Aí o Exército americano que já tinha saqueado um bocado de areia monazítica da serra de nossa cidade, me ressarciu com a invenção da internet. O Blog foi a solução do meu grande sonho.
ZAN - Como você se sente aí em Curitiba, com os olhos e o coração aqui em Campo Maior, como é essa experiência?
NETTO - O Bitorocara é um campomaiorense nascido em Curitiba há três anos. A saudade foi o combustível que acelerou a imaginação pra que este sonho se realizasse a partir de uma cidade com uma realidade tão distante da nossa, mas que me deu todas as condições de realizá-lo.
ZAN - Quando você percebeu que a experiência de fazer o blog ia tomar o rumo que tomou, esse envolvimento tão grande de tantos campomaiorenses ausentes o visitando diariamente?
NETTO - Alguma coisa sempre me disse que eu teria que realizar este trabalho que muita
gente gostaria, mas não sabia como. Minha experiência em redações de jornais, como
chargista, caricaturista, transportando para o traço o que seria a manchete do dia;
emagências de publicidades como artista gráfico, aliado ao meu gosto por leitura de todo
tipo, principalmente por história, geografia, enfim: era só dar início àquilo que eu tinha
certeza que teria uma grande receptividade.
ZAN - E as brigas que pintaram nos comentários e lhe fizeram moderá-los?
NETTO - Se tivesse sido lá no JenipapoNews (o outro blog da “rede”
BitorocaraBroadcasting...Arre!), por mim, já teria sido iniciado a segunda guerra com algum Fidié do plantão. No Bitorocara, não, a coisa lá é mais melindrada; nós só queremos rememorar nossos costumes, rir dos nossos fuxicos, recordar nossas músicas; mostrar que em dado momento nós erramos; mas não quero que o blog seja o estopim para uma caça às bruxas, ou aos "zé bocosos" da vida atual.
ZAN - Quando esteve aqui nos últimos festejos, o que sentiu das pessoas com quem esteve e da repercussão do blog na cidade?
NETTO - Levei um baita susto! Sinceramente, eu não fazia a menor idéia da dimensão que o sucesso do blog tinha atingido. Escutar falar, andou foi longe do que eu presenciei, logo que botei a cara na rua. Em outra época eu teria parodiado o general Golbery do Couto e Silva quando reconheceu que tinha criado um "monstro" (ditadura, AI-5). Pra felicidade nossa, criamos o "médico"; inventamos uma máquina pra viajar no "túnel do tempo"; e estamos prestes a repercutir encontro de ex-alunos, graças a sugestões que já começam a ser enviadas pelos leitores. E foi aí que eu vi que tinha acertado o alvo, comemorado com chuvas de colaborações para “posts”, vindas de todo canto. Sem deixar de mencionar a grande e valiosa colaboração da família do saudoso Paulo Bona Andrade, na pessoa do Artur, filho do grande e divertido amigo.
ZAN - Na sua opinião, por que algumas pessoas usam o recurso do pseudônimo e do anonimato para ofenderem-se umas às outras (isso antes de você usar a moderação dos comentários)?
NETTO - Comunidade pequena onde todos dependem uns dos outros - nem que não queiram. Total dependência do poder público. E a famosa máxima do Sartre (filósofo francês) que dizia que o “inferno”, pra alguns de nós, é o que as pessoas pensam da gente.
ZAN - Na sua experiência fazendo o blog, qual fato você considera o mais bizarro e estranho, hilário ou chocante, na participação dos visitantes e seus comentários?
NETTO - Por incrível que pareça, o “Sobrenatural de Almeida” ainda não deu as caras em nenhum dos meus blogs... Como leitor! “Seu Hilário” é “xafé” pequeno perto da espontaneidade recheada de bom humor que o campomaiorense traz no seu DNA escrachado. Por fim - e com um pontapé no traseiro do politicamente correto -, tem gente que não considera bizarrice extrapolar nas carícias de amor a uma carente “gobila”. Ainda bem que isso não chega a ser um consenso.
ZAN - Numericamente falando, quantos visitantes em média, vão ao blog, por dia ou mês?
NETTO - Quando era hospedado no UOL, há dois anos, tínhamos um contador de visitas que em momento algum, interferiu no meu intento. Eu sabia que estava no caminho certo e também sabia que na “blogosfera”, diariamente, são criados 170 mil blogs por dia; um blog a cada segundo! E que se eu fosse pensar nisso, não haveria Bitorocara. No atual Blogger, onde estamos hospedados, ainda não consegui ver como isso funciona.
ZAN- Você, além do blog bitorocara, faz outros dois blogs, direcionado a um público diferente do que visita o Bitorocara. O que te dá mais prazer, fazer o Bitorocara ou os outros blogs?
NETTO - A preocupação em alimentar o nosso Abrigo dos Artistas, de modo que não deixe os “véi” carecendo de notícias e imagens do passado, é uma constante. O ego dos “bixins” ficam mais pra riba do que a torre da igreja de Santo Antônio (estou falando do ego!). As “cocotas” ficam exigindo que as fragilizadas cambitas ainda respondam aos passos da “jovem guarda”; mas isso é bom, pra que sintam que viveram numa época que nunca mais se repetirá; que a nossa época, foi única!!!
ZAN - O material fotográfico e de texto que acumulou nesses três anos dá pra pensar em fazer um livro?
NETTO - Vejam só que coisa doida: estou às vésperas de fazer um caminho inverso. Vou coletar material do “mundo virtual” pra fazer um livro de papel impresso! Isso também quer dizer que eu não sou esses velhos como dizem. Farei minha primeira incursão neste estranho mundo do Gutenberg. Esse sim, era só um pouquinho mais velho do que o Zan e o nosso Mundico Belchior, sobreviventes d`A Luta, o jornal do Totó Ribeiro e do doutor Zé Miranda.
Depois de ler o entrevistador e o entrevistado, plenos conhecedores da causa em tela, não terei que dizer mais nada do que penso a respeito do João de Deus Netto e dos seus vitoriosos blogs - sendo o meu preferido o Bitorocara, por ser mais entranhado na alma campomaiorense. Nessa madrugada mesma - 26 de fevereiro -, me encontrei em plenas 3 horas, esquecido inteiramente do tempo, diante do computador e, depois de haver passado pelos blogs do ZAN, da Maria Luselene e do caçula - Poeta Elmar Carvalho - estacionei os "fundos de grarrafa", ou, come dizia o espirituoso Pe. Mateus, os "cacos de cuia" no Bitorocara, em que me deparei com um tal de Tuiuiú repetindo a injeção de seu veneno em mim. Ao terminar a postagem de minhas considerações, consultei o relógio, quando fui atingido por um tremendo raio de susto.
ResponderExcluirParabéns a ambos os blogueiros. Campo Maior agradece-lhes.
Zan parabens pela a entrevista com o Neto.O mesmo merece nosso respieto e admiração por relatar e comentar as coisa boas de Campo Maior, e não deixar as lembranças da terra dos carnaubais ficarem sem memorias.
ResponderExcluirZan, adorei a entrevista com o Netto, parabéns pra vcs dois e fico aqui na torcida pelo livro, acho que vai ficar muito bom.
ResponderExcluirUm abraço
Lúcia Araújo
O acaso não existe, esse encontro tinha hora marcada para acontecer.O retorno do meu irmão Pinuca(ZAN)à sua terra,contribuiu para aproximar mais ainda esta dupla; graças a ela, os filhos da nossa terra, espalhados por este mundo grande, se reencontraram.O resultado de tudo isso é a festa do "Maior Encontro". Este "maior encontro", na minha opinião, não se refere ao tamanho da festa, na quantidade de pessoas envolvidads,no tamanho da farra; este vai ser o maior encontro sim, porque foi o amor que nos uniu neste propósito.
ResponderExcluirIsso aí, Simão, vamor organizar a festa porque junhho tá aí, só tem três meses...
ResponderExcluirZan, parabéns pelas entrevistas e também o idealizador da Revista Nossa Gente meu xará Raimundo Belchior pelas perguntas e respostas bem formuladas.
ResponderExcluirE que venham a nós outros Nettos enviados por Deus.
Abraços.
HL/Sp
Concordo com vc Simão, vamos ter o maior encontro e vai ser o primeiro de muitos.
ResponderExcluirAbraços
Lúcia Araújo
Eu e o Netto temos muitas diferenças mas isso não nos atrapalha de fazermos coisas juntos, tipo nos ajudarmos na feitura de blogs...
ResponderExcluirOs diferentes quando se aproximam conseguem realizar maravilhas.
ResponderExcluirGostei do trocadilho, ali em cima, sobre o dono do Bitorocara, poeta Horácio da Terra da Opala. Você é primo do Ernâni, de Pedro II? Por coincidência, também sou parente dele, por ambos os lados maternos. A família de minha mãe e ela própria são pedrossegundenses. Acho que o amigo já sabia, pois pois?
ResponderExcluirMeu gurú José Miranda Filho, você acertou na mosca, o Ernâni é meu primo legítimo, seu pai Deusdete que não é o Melo do Estádio de Campo Maior é irmão da minha linda mãe cabecinha branca dona Helena, isto é, tudo em família de conterrâneos.
ResponderExcluirNasci em Pedro II
Pedindo a benção
A Ns. Sra. da Conceição.
Tomei banho no Catingueiro
Das águas avermelhadas
Descendo da Serra dos Matões.
Nasci em Pedro II
Onde matei a minha sede
Lá na Pirapora.
Nasci em Pedro II
Cidade brilhante
Nascente da terra.
Zé Miranda, talvez eu tenha algum dom de escrever, eu arranho em alguns versinhos de improviso, ou seja, modestamente.
HL/SP
abç
Horácio, acertei mesmo com o Ernâni. Rapaz, você é, realmente, poeta. Deixe de modéstia, com essa história de que "arranha".
ResponderExcluirA Pirapora, que beleza rara! Hoje, só se fala no Roncador. Desprezaram a Pirapora. Na primeira metade dos anos 50, quando minha família passou uma temporada em Pedro II, eu era um menino pequeno, moramos naquela casa imensa onde agora se localiza o Clube 11 de Agosto. Meu pai, Zemiranda, nos levava - éramos eu e o Icade - para tomar banho na Pirapora. E aquele lugar me impressionava. Uma grande cavidade de rochas, arredondada, como se perfurada, milênios atrás, por um meteoro. Muita gente lá, reunida. Barulho ensurdecedor da catarata, aliado ao vozerio de muitos banhistas, de crianças e lavadeiras. Ficava triste quando chegava a hora de nos retirarmos. Sua poesia trouxe-me de volta, como numa fita cinematográfica, a exuberância daquele cenário.
Abraço, véi.
Zé Miranda, fico muito grato pelo incentivo, realmente a vida nos reserva muitas surpresas, entre elas aquelas pessoas que tem esse dom. É muito bom saber que ainda existem pessoas assim, e com isso, meu carinho e admiração só crescem, um momento novo pede isso: paz no coração e sorriso no rosto, o importante é viver o momento, aproveitar a vida e as pessoas especiais que nela entram.
ResponderExcluirSentir gratidão é um ato de sentir fé em Deus, vivendo com gratidão vamos aprendendo a procurar pelos mistérios de Deus e em tudo agradecer a Deus. Agradecer é compreender o rítimo de Deus.
Quero agradecer os blogueiros Zan e Netto pelo espaço e comentários, realmente a internet nos proporciona esta facilidade de encontros.
Abraços.
hl/sp
É isso aí, Raimundo Horácio; como se dizia: "Fé em Deus e pé na 'taba'!"
ResponderExcluirAbração do
Zemiranda
Caro Zan,
ResponderExcluirVocê não me conhece. Mas eu o conheço ainda dos tempos do BB e do Jornal A Luta. Acompanho com freqüência os conteúdos postados no seu agradável blog e também os do conterrâneo Netto (Bitorocara...).
Gostaria de fazer um comentário sobre a nossa querida Cidade. A deixei em 1979 (rumo a Fortaleza para estudar) e não mais retornei para morar, somente para visitar familiares e amigos anualmente. Há 18 anos resido em Natal/RN.
Entendo que a nossa classe política - não diferente da do resto do país - não colocou nossa Cidade no caminho do desenvolvimento necessário para atender e manter os seus filhos nos limites do município.
Nas décadas de 70 e 80 tínhamos a cultura do cimento (prefeito bom era aquele que fazia obras); na década de 90 destruíram a cidade; e na seguinte foi a década das festas (botar o povo pra dançar ao som desses pseudos forrós, de letras ordinárias e apelativas, e da batida sempre igual do axé music, com aquela gritaria do tipo ..."tire o pé do chão, mãozinhas pra cima, quem gostou faz barulho...). Ai!
E assim a vida vai passando, a cidade vai parando e quem nela reside pára junto e não percebe mais claramente o atraso, pelo menos a maioria.
Quando estou em Campo Maior fico observando, com tristeza, que os maiores comércios (empresas) são de fora: Armazém Nordeste, Nordestina Tecidos, Paraíba, Carvalho, só para citar uns poucos. Instalam-se na cidade, provavelmente alguns até com benefício fiscal, empregam, é verdade, mas com o miserável salário mínimo, e levam a renda da cidade para as suas matrizes. Ou seja, vem somente buscar um dinheiro que poderia ser reinvestido na cidade. É culpa da classe política campomaiorense? É sim, porque nunca houve uma política séria para fortalecer os empresários locais e muito menos desenvolver um parque de pequenas indústrias (não precisam ser grandes), mesmo em regime de cooperativas; temos uma pecuária forte (notadamente caprinos e ovinos), mas não temos nenhum frigorífico que possa processar carnes e agregar valor para suprir a capital, um forte mercado para Campo Maior; temos uma boa produção de peles e não foi incentivada a implantação de nenhuma indústria de calçados com empresários locais para agregar valor ao nosso couro; temos o açude dos Corredores que querem transformar somente em atração turística, quando poderia se desenvolver também um projeto técnico para produção de hortaliças e abastecer a Capital, beneficiando diversas famílias locais; a nossa cera de carnaúba é vendida in natura, o que tem pouco valor e emprega menos. E certamente têm várias outras potencialidades que poderiam ser exploradas de forma articulada para gerar mais negócios e empregos para a população. Além de Teresina temos outros centros consumidores menores como: Barras, Piripiri, Altos, Castelo, Capitão de Campos, etc. que poderiam, se bem trabalhados, demandar nossos produtos.
Tenho consciência de que governar não é uma tarefa simples, mas iludir o povo com festas ou não fazer nada para o bem da população é desgoverno. A prova disso é que o município, um dos mais importantes do Estado, tem dois deputados pouco expressivos e nenhum deputado federal e senador.
A violência generalizada na cidade é conseqüência da desocupação dos nossos jovens – sem emprego, sem escolas, famílias sem condições, etc. -, que ficam sem perspectivas de um futuro digno e são facilmente cooptados pelos traficantes, que lhes vendem a ilusão do dinheiro fácil. Como o Município e o Estado não oferecem uma educação de qualidade e nem segurança, a tragédia social instala-se rapidamente, destruindo famílias de qualquer classe social.
Este é, sem querer ser o dono da verdade, o sentimento e a humilde opinião deste seguidor do seu blog.
Parabéns pela iniciativa e trabalho.
Cordial abraço,
Gilberto Monteiro