sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

EU QUERIA...


Eu queria ter a palavra fácil e o verbo rápido dos grandes oradores, a exemplo de João Cláudio Moreno, Professora Avelina Rosa, João Alves Filho e Padre Raimundo, filhos ilustres desta terra de Campo Maior, que com carinho e apreço tão bem retrataram o poeta no dia da sua última viagem... Palavras proferidas com carinho, emoção, sabedoria e mágica, para homenagear aquele que um dia também encantou e decantou com palavras e rimas...

Eu queria ter a coragem e o disprendimento do poeta Cunha Neto, que portando apenas uma pequena mala de viagem, quase sempre uma lata de frito, mas com certeza a sua inseparável caneta e papel para escrever a qualquer momento e em qualquer lugar... Que um dia partiu por este Brasil afora, para divulgar em poesia, em prosa, em verso em rima e verbo, ele que também foi um grande orador, os verdes carnaubais da nossa terra de Campo Maior...

Eu queria ter o espírito desbravador do Cunha Neto, que nascido de família pobre no interior do município de Campo Maior, numa época em era difícil aprender a ler, pois existiam poucas escolas, aprendeu a ler e escrever e logo suas palavras e seus escritos começaram a encantar e alegrar a todos aqueles que foram seus contemporâneos e amigos, alguns inseparáveis amigos, como o saudoso jornalista Ribamar Lopes, seu compadre (meu padrinho). Cunha Neto e Ribamar Lopes, logo estariam partindo para Belém do Pará, terra também muito amada pelo poeta e que dividiu com Campo Maior a sua paixão...

Eu queria ter a simplicidade e a humildade de Cunha Neto, que com uma linguagem rápida e fervorosa não recusava o uso da palavra em qualquer oportunidade que surgisse, em qualquer situação, em qualquer momento ou solenidade, diante de qualquer autoridade e qualquer público. Fosse para homenagear um amigo que estivesse de aniversário, ou que estivesse de partida, ele com toda a certeza estaria ali, prestando o seu tributo...

Eu queria ter a facilidade de comunicação do Cunha Neto, que fazia amizade com criancinhas, com jovens, com idosos, com pobres e com abastados, sem distinção, sem preconceitos sociais ou religiosos. Ele que foi amigo dos amigos, desde os representantes do poder público, dos mais altos cargos, até aquele companheiro de prosa que encontrava no bar para tomar uma gelada, ou simplesmente para prosear...

Eu queria ter o coração grande e bondoso do Cunha Neto, que não deixava um amigo em apuros, se pudesse ajudar de alguma forma. Doando o último trocado do bolso, emprestando um objeto ou simplesmente proferindo uma palavra de conforto diante de uma situação de aflição...

Eu queria ter a fé e a coragem de Dona Ana Cunha, a fiel companheira e dedicada mãe, que silenciosa no sofrimento, mas firme como uma rocha não se deixou abalar pelas dificuldades e pelas amarguras da vida... Nem mesmo quando o poeta partia para suas longas viagens para desbravar com palavras, para criar versos, para fazer amigos... Para mostrar Campo Maior em poesia... Dona Ana estava ali firme, as suas orações e súplicas pediam que o Cunha Neto voltasse são e salvo para os seus braços e para os braços dos seus filhos... E nós (os seus filhos) também estávamos lá... Esperando e rezando!

Eu queria, eu queria mesmo, com toda a dor que sinto no peito, com a alma e o coração magoados pela separação, pedir ao bondoso Deus, Ele que é misericordioso para com os seus filhos, que proteja o Cunha Neto, nesta sua última viagem rumo à casa do Pai. Que as suas fragilidades e faltas durante a caminhada, sejam superados pelas suas virtudes e sua bondade e que a sua alma possa continuar a fazer versos, a encantar com poesia e trovas os anjos e santos do céu, na companhia alegre dos amigos e familiares que o precederam nessa viagem e que um dia nós também trilharemos, pois é o nosso destino...

Eu queria agradecer ao povo de Campo Maior pelo carinho e pela solidariedade com a família do Cunha Neto neste momento difícil... Mas como disse o nosso querido orador (João Claudio): “Saudades sim! Tristeza não!, pois não combina com o poeta”. Vamos ter sempre em nossos corações e na nossa mente, a lembrança do Cunha Neto alegre e divertido, que gostava de contar piadas (anedotas como ele dizia) e alegrar os ambientes por onde estivesse!

Eu queria agradecer a Deus pelo poeta...
Eu queria pedir à Deus pelo poeta...
Eu queria dizer Adeus ao poeta... até algum dia meu pai!



Cunha Filho em 08.02.2010 – (mensagem escrita na madrugada seguinte após o sepultamento do Cunha Neto - o dia seguinte).

Um comentário:

  1. Sou um pai que não tenho ao meu lado os meus filhos que vivem em Brasília e me emociona ler o texto de meu amigo José Cunha Filho sobre a morte de seu pai... Como é lindo morrer cercado do amor de seus filhos, de sua mulher e de seus amigos!!! Parabéns, poeta, por mais esse poema vivo que foi sua morte e seu sepultamento...

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