segunda-feira, 22 de junho de 2009

OLAVO PEREIRA DA SILVA FILHO:”A preservação de acervos arquitetônicos e urbanísticos é antes de tudo uma questão de relações sociais”.


Zan -Você nasceu em Campo Maior, não é isso? Viveu aqui até que idade?
Olavo- Sim, sou de Campo Maior e morei na Fazenda Rocio até por volta de 10 anos.
Zan - Quais as lembranças mais fortes que tem desse período?
Olavo - A casa, o campo e o rio Surubim.
Zan - Sua família viveu desde que geração na fazenda Rocio?
Olavo – Esse sítio, nos arredores da cidade, hoje área urbana, foi adquirido pelo meu avô e ali viveram minha mãe e todos os seus irmãos.
Zan - Quando saiu daqui e foi pra onde?
Olavo - De Campo Maior fomos para Teresina onde morei até 1964, quando fui para o Rio de Janeiro. Em 1968 fui morar em Belo Horizonte.
Zan - Depois de formado em arquitetura, viveu e trabalhou onde?
Olavo – Em 1973 fui trabalhar no Maranhão e no ano seguinte voltei para Belo Horizonte. Atuei no magistério por cinco anos e por 20 anos trabalhei no serviço público, - Fundação João Pinheiro, Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais e Ministério da Cultura. Depois passei a trabalhar como autônomo.
Zan -Você conviveu muito com seu tio Chico Pereira? Como era ele como pessoa?Como você o via como escritor?
Olavo – Convivi quando criança e mais tarde quando fui morar no Rio. Continuamente me incentivou e me despertou para o mundo das artes plásticas, ora em inúmeras visitas a museus e exposições, sempre com eloqüente análise, ora muito me presenteando com livros, materiais ou ainda aulas como as ministradas por Ivan Serpa, no Museu de Arte Moderna do Rio. Através dele conheci várias personagens da literatura, pintura e teatro, inclusive Anísio Medeiros, arquiteto piauiense, dedicado à cenografia teatral e com notáveis projetos arquitetônicos em Teresina. Aprendi muito com ele. Era uma pessoa cheia de projetos relacionados à temática nordestina. Apaixonado pelo teatro e com enorme bagagem literária. Um pesquisador incansável e de enorme criatividade. Era uma pessoa de grande sensibilidade de percepção.
Zan -Fale do interesse de sua família na criação de um Memorial Chico Pereira em Campo Maior e do interesse da Prefeitura na criação desse memorial.
Olavo – Soube dessa idéia, não sei exatamente de quem é essa iniciativa, nem como estaria sendo desenvolvida. Em todo caso, temos interesse nesse projeto e gostaríamos de participar do seu desenvolvimento.
Zan - Você voltou a morar no Piauí em 2007, o que lhe trouxe de volta ao Piauí, razões pessoais ou profissionais?
Olavo - Era um projeto antigo de mudar de endereço, atrelado a viabilização de serviços profissionais.
Zan -Você escreveu um livro sobre a arquitetura piauiense lançado o ano passado. Quando começou a pesquisar o assunto e qual foi a receptividade do livro?
Olavo – As primeiras anotações datam de 1969, mas se tratando de uma iniciativa independente, esse trabalho foi constantemente interrompido. A receptividade tem sido muito boa. Tenho recebido muitas manifestações da imprensa e de pesquisadores. Em 2008 recebi o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, do Ministério da Cultura.
Zan - Você é especialista em restaurações de prédios e sítios arquitetônicos de valor histórico e cultural. Trabalha nessa área em algum projeto aqui no Piauí?Olavo – Em 2008 realizei cinco projetos para a preservação de centros históricos e restauração de monumentos no Piauí – Amarante, Campo Maior, Pedro II e Teresina, além de projetos de restauração de monumentos em Campinas e Parnaíba. Atualmente trabalho na restauração do sobrado Simplício Dias e Dona Auta ambos em Parnaíba e ainda em Oeiras. Além disso, acabei de fazer um trabalho sobre o Piauí para a Fundação Calouste Gulbenkian a ser publicada, intitulada: Patrimônio de origem portuguesa no mundo.
Zan -Campo Maior já tem uma lei que dispõe sobre prédios de valor histórico. Você conhece essa lei? Esse tipo de ação do poder público é importante para a preservação de sítios arquitetônicos de valor cultural?
Olavo - Conheço essa legislação, mas parece que não está em vigor. A preservação de acervos arquitetônicos e urbanísticos é antes de tudo uma questão de relações sociais. Mas, na nossa cultura, os dispositivos legais, quando bem elaborados são instrumentos indispensáveis para o resgate e valorização desses bens. É nesse sentido que o IPHAN vem atuando em busca de resgatar nossas tradições e valorizar empreendimentos culturais em que se inserem a restauração de acervos arquitetônicos e urbanísticos. Por isso o trabalho realizado recentemente em Campo Maior e que pretendemos apresentar à comunidade local, como já feito noutras cidades históricas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...