segunda-feira, 22 de junho de 2009

A ARTE DIFERENTE DE AMARAL

Antonio Amaral nasceu em Campo Maior há uns bons anos. Mais novo do que eu já é avô. Conheci-o em seguida ao Netto através do Bitorocara. Fiquei espantado com sua arte. Trocamos farpas jocosas e cordiais em comentários nesse blog e no seu Setcuia. Quando me encontrei pessoalmente com ele em Teresina, fiquei encantado com sua simplicidade e despojamento. Deu-me duas revistas em quadrinho de sua lavra. Puro quadrinho cabeça. Demais. Antonio Amaral é um dos mais importantes artistas plásticos do planeta, sem exagero. Já ganhou prêmio internacional. Breve vai expor em Coimbra, Portugal. Olhei no olho do cara. O cara tem um olho diferente, até a cor é diferente. Fiz-lhe perguntinhas à toa, respondeu com presteza. Antes li uma entrevista que deu para o poeta Elias Paz, que está nesteendereço:htto://eliaspazesilva.vilabol.uol.com.br/indexhum.htm. Vão lá e conheçam mais a arte deste talento nascido entre nós em 1962. Abaixo a entrevista. As reproduções que ilustram a matéria podem ser baixadas (ZAN)
Zan - Desculpa a ignorância, amigo, mas o que é mesmo Hipocampo?
Amaral - O hipocampo é um jeito de olhar, uma forma de ver as coisas; um universo paralelo.
Zan - Quando foi que você. começou a espantar as pessoas com tua arte?
Amaral - A partir do momento em que ela me espantou
Zan - Quando você vai dar oficinas pra garotada, mostra antes tua arte pra eles?
Amaral - Muito difícil. Mostro os clássicos, e faço alguma demonstração do processo de execução, para que eles compreendam suas etapas. Quase sempre me pedem que leve alguma coisa, atendo sempre.
Zan - Eles não ficam com medo de você. ensinar aquilo pra eles?
Amaral - A única etnia que tem medo deles são os racionais, cartesianos
Zan - Você conseguiu dar oficinas em Campo Maior?
Amaral - Nunca. Certa vez, quando o Marco Bona era prefeito, na ilusão de que era um cara novo, com a possibilidade de perceber a importância da expressão artística para o ser humano, levei um projeto de um grande painel, a ser montado da praça Bona Primo, o cara não deu a menor importância. Ainda pretendo fazer alguma coisa pela cidade, uma oficina seria o mínimo.
Zan - O que significa pra você ter nascido em Campo Maior? O Netto acha que só um cara nascido em Campo Maior pode fazer a arte você. faz. Que é que ele quis dizer com isso?
Amaral - Significa a dádiva e o poder de alargar horizontes, a começar pelo foco, ainda hoje tenho obsessão por planos gerais. seus tabuleiros de carnaubais compõem um cenário inusitado e isso tem uma grande importância em minha formação. Sua paisagem, seu cenário foi a primeira noção de liberdade.
Zan -Netto de Deus me disse que só um cara nascido em Campo Maior faria a arte que você faz. Que é que ele quis dizer com isso?
Amaral -Neto acredita, que Campo Maior tem uma janela para o infinito, para o absoluto, é uma relação legítima e compreensível de quem andou muito e teve a visão de fora, pode ver sua aldeia de cima e mensurar sua importância.
Zan- O que é que Campo Maior ainda significa para você?
Amaral - Seria uma hipocrisia dizer que a cidade ainda me encanta. A forma como me afastei e o isolamento da cidade, me descompactou de sua gente. Hoje me sinto um estranho, mas sei da sua importância, principalmente como cidade histórica. Acho que campo Maior deveria ter um projeto turístico onde se fizesse uma reconstituição do caminho de Fidié, um trilha, assim como também, ou mais importante ainda, a reconstituição do caminho do Leonardo, dos líderes da batalha.
Zan - Essa é pra fingir que entendo alguma coisa de pintura: tua arte tem influência de Jerônimo Bosch ou de Salvador Dali ou daqui mesmo?
Amaral - Quando era menino, gostava muito de Dali, mas depois fui percebendo a sua limitação estética, era um pintor de técnica muito acadêmica, acho que hoje estou mais pra Bosch.
Zan - O que é você. acha mais bonito e te atrai em Campo Maior?
Amaral - O açude, quando tinha as cacimbas, era ainda mais onírico. Tinha uns ciganos belíssimos que acampavam na beira do açude, vez por outra. O açude ainda guarda um pouco de poesia. Aquele ninhal que antes não havia, que fica ali, no mucuripe, é uma forma reveladora de sua importância.
Zan - E de mais feio, além da barriga do Mangureba?
Amaral - 0 Mais feio foi a forma como eu sai, foi terrível, nunca mais dei as caras. Sofri tanto com a apartação que fiquei com receio de uma recaída, não vejo outra explicação para essa atitude vergonhosa, acho que no fundo foi uma autodefesa. Tem uma coisa positiva nisso tudo, desde que vim para Teresina, em 75, nem para os festejos, eu voltei, a memória que guardo é preciosíssima, barba-da-veia, tripa de porco frita, balões, muitos balões, calça us top nova, aluá..., isso tudo tá preservado na memória.
Zan - O que é preciso para se fazer uma exposição de tua arte em Campo Maior?
Amaral - Só precisa ter alguém mais, além de você, que tenha interesse por ela.
Zan– Amaral, você nasceu em Campo Maior e passou parte de sua infância aqui. Fale dessa experiência, de sua família, do que isso significou para sua arte.
Amaral- Fui criado pelo meu tio-avô, ele foi o meu pai, Luiz Pinto, o quitandeiro, tudo que aprendi devo a ele e minha mãe Maroca, dois velhinhos. Eram pessoas muito simples, minha mãe tinha o hábito de ler para mim, lia a história de Sansão e Davi, era muito esperta, sabia do meu interesse por histórias em quadrinho, acredito que por isso me lia essas histórias. Meu pai nunca me deu um conselho, nunca me disse o que deveria ou não fazer, mas me tornei muito parecido com ele, por osmose. Era um homem muito pacato e de pouca conversa. Adorava criança, rede de tucum e torrado (rapé), só não herdei o torrado, minha venta já me dá muitos problemas.
Zan – Quando você começou a desenhar e como chegou ao estilo atual?
Amaral- Tudo começou com os quadrinhos, aprendi a ler escrever e desenhar por conta deles, fui levando isso ás últimas consequências até desaguar nessa linguagem, que é o resultado de todo o meu repertório mais a obsessão pelos quadrinhos.
Zan – A tua arte é extremamente diferenciada, por isso é apreciada onde é vista. O que significa isto para você?
Amaral- Significa que nada é determinantemente nosso, nem a nossa expressão artística. Tudo nos é, de uma certa forma, dado. Por isso acredito que não podemos cobrar nada de ninguém.
Zan – É preciso entender de arte para apreciar arte?
Amaral -Negativo. A arte habita a relação, e se dá no campo do emocional. Portanto é uma troca entre sujeito e objeto, uma troca de olhares. Onde o sujeito faz o papel de objeto e o objeto faz o de sujeito. Esse é o mistério
Zan – O leitor médio de história em quadrinho é capaz de ler as revistas de história em quadrinho que você publicou?
Amaral- Uma vez, uma professora levou uma de minhas HQ para uma sala de 5 série, o comentário foi surpreendente.
(Entrevista concedida por e-mail, entre 22 e 27 de abril de 2009

2 comentários:

  1. O "caminho de Fidié" - idéia lançada pelo Amaral, na emtrevista concedida ao ZAN, - que, obviamente, inclui Campo Maior, pois foi onde a presença do major português maior significação, na história da Independência do Piauí, é uma aspiração não muito animadora. Temos já vigorando um projeto do governo estadual - o "caminho do litoral". Este, sim, desperta grande interesse em decorrência da lucratividade, pois nvolve obtenção de gordas rendas para os cofres esaduais. O "caminho de Fidíé" engordará a pança ávida do tesouro? Ora! nem o monumento do Jenipapo mereceu a especial atenção do governador Wellington Dias e sua equipe, pelo menos, a que compõe a educação, a cultura e o turismo. E já está terminando sua segunda gestão. Em que ponto se acham o projeto de realização do filme sobre a independência, a Batalha do Jenipapo, prometida por ele na primeira comemoração desse episódio, ainda no primeiro ano do seu primeiro mandato? O único existente é o feito pela TV Cidade Verde. E o de transferência do Tiro de Guerra, hoje sediado no centro da cidade, para o monumento? Até as providências visando à substituição da bandeira velha pela nova são do nosso desconhecimento. Como se sabe - será que todos sabem mesmo?! -, a Assembléia Legislativa do Estado aprovou, à unanimidade, pela lei nº 5.507, de 17/11/2005, - já são quase 4 anos, portanto, -, o projeto do dep. Homero Castelo Branco - aoacolher sugestão do escritor idealista Adrião Neto -, introdindo na nossa bandeira, no quadrado azul, abaixo da estrela Antares, que simboliza o Piauí no pavilhão nacional, a data 13 DE MARÇO DE 1823, em justíssima homenagem aos nossos heróis. Entretanto, saiam por aí conferindo a negligência, o descaso, o desrespeito das autoridades governamenais em qualquer canto do nosso território, em qualquer município, incluindo-se a própria capital. Todos os exemplares da bandeira, com raríssimas exceções - com pleonasmo, sim senhor! -, hasteadas em órgãos públicos estaduais, federais, municipais - salvo em Campo Maior e Teresina, do qual o prefeito é campomaiorense, e já constate -, além de órgãos não-governamentais, empresas e instituições privadas, estão desatualizados, isto é, sem a alteração. Ignora-se se a lei pertinente estabelece um prazo para que se proceda a troca. Mas se sabe que o governador não concordou com a mudança, vetando o projeto de lei, em que foi contestado pelos parlamentares, entre os quais os da base governista (foi unânime a derrubada do veto "karnakiano"). O certo é que, com esta intolerância ou não à idéia, a bandeira do Piauí que se vê nos mastros do Estado inteiro não é mais o nosso pavilhão, mas tão-somente um pedaço de pano qualquer, que poderá ser, sem o risco de se praticar crime contra um símbolo piauiense, rasgado e/ou ateado fogo. Mas não me acusem de motim, insuflação, de outro Lourenço de Araújo Barbosa, o homem da pólvora da insurreta Vila de Campo Maior, nos idos de 1822/23.

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  2. Por favor, como gosto de exprimir claramente o que penso, e se tiveram o interesse de ler o meu comentário supra, façam as seguintes correções;
    a) ... o major português TEVE maior... (4ª linha);
    b) ... pois ENVOLVE... (9ª linha);
    c) ... cofres ESTADUAIS... (10ª linha);
    d) ... ... AO ACOLHER... (29ª linha);
    e) ... INTRODUZINDO na nossa bandeira... (30ª linha);
    f) ... e já CONSTATEI... (42ª linha).
    Obrigado.

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