
Estou envolvido aqui na cidade em dois projetos pedagógicos, um deles com crianças de 9 a 12 anos de idade (montagem de uma peça infantil) e um outro originalmente destinado a adolescentes de 15 a 20 e que está melancolicamente ameaçado de ser inviabilizado pelo risco de os alunos a quem se destinariam, estarem demonstrando pouco interesse pelo projeto (oficinas de teatro). Ambos em escolas da rede pública de ensino.
Não vou citar nomes das escolas envolvidas e nem as pessoas da direção dessas escolas porque a questão que eu quero abordar neste artigo transcende a questão da pessoalidade e não tem a menor intenção de expor ninguém a críticas e muito menos a denúncias. Não é o caso, deixo isso muito claro.
Quero só fazer uma breve reflexão que poderá contribuir de alguma forma para que as relações entre professores e alunos das escolas públicas da cidade sejam menos desprazerosas e mais proveitosas não só para o objeto da ação pedagógica, o aluno, como para o agente mais importante desse processo, o professor.
Sou, por natureza e temperamento, pessoa extremamente cautelosa na forma como me relaciono socialmente com qualquer pessoa e de volta à cidade depois de muitos anos fora, me esforço ainda mais em que minha relação com a cidade e as pessoas dela seja a melhor possível. Ou bem ou mau, esse é o meu jeito de ser e não tenho mais idade para nem pensar em mudar. Isso não quer dizer que, no momento adequado e quando absolutamente necessário, deixo de ser a pessoa doce e civilizada e me transformo naquilo que é preciso se transformar para que as pessoas me respeitem. Já dei mostras disso aqui durante a montagem da peça sobre Santo Antonio.
Esses projetos em que estou empenhado são de curta duração. Os professores das escolas onde os desenvolvo e com os quais dialogo para realizá-los invariavelmente me dizem algo que me deixa preocupado:”é preciso ter muita energia para lidar com essas crianças...” Esses professores convivem com essas crianças no dia a dia, o ano todo, anos a fio. Eu chego por lá de vez em quando me propondo a brincar de fazer teatro com as crianças ou adolescentes...
São duas situações diferentes e está mais do que claro, requerem da gente, alguma flexibilidade de estratégia para conseguir atingir os objetivos desejados. Semana passada, a última vez que estive numa dessas escolas para oficinas de teatro, a maioria dos alunos inscritos não entrou na sala em que estava com os poucos que entraram. Esta semana, que só vai ter um dia de aula, na quarta feira, estou me preparando para propor à direção da escola estratégias de atração dos adolescentes que se inscreveram e que entrevistei e que sumiram (para quem o projeto estava destinado) por razões que eu ainda não me dei conta, para tentar mudar o quadro. Adolescentes na faixa de 15 se desinteressaram, os menores de 15 anos ficaram em sua maioria, outras crianças abaixo de 15 procuraram fazer as oficinas.
A reflexão que eu proponho a todo mundo envolvido aqui com educação, baseado nessas experiências que eu já tive aqui e em conversas com amigos professores é muito simples:
1) A ESCOLA PRECISA MELHORAR A FORMA COMO SE RELACIONA COM OS ALUNOS, PELA MELHORIA DA RELAÇÃO PESSOAL DOS PROFESSORES COM OS ALUNOS;
2) CRIANÇAS E ADOLESCENTES NÃO PODEM SER TRATADOS PELAS ESCOLAS COMO EMBRIÃOS DE POSSÍVEIS DELINQUENTES PERIGOSOS; DELINQUENTES PERIGOSOS ELES SE TRANSFORMARÃO SE A ESCOLAS NÃO OS TRANSFORMAREM EM CIDADÃOS...
3) É PARA ISSO QUE AS ESCOLAS EXISTEM...
4) SE FOREM APENAS MERAS FORNECEDORAS DE DIPLOMAS PARA OS ALUNOS OU ÚNICA ALTERNATIVA DE EMPREGO DE PESSOAS QUALIFICADAS COM CURSO SUPERIOR, PARA OS PROFESSORES, ESSAS ESCOLAS FALHAM DE FORMA LAMENTÁVEL.
5) A ESCOLA, PARA SER UM FATOR DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL, PRECISA SER TRANSFORMADA EM ALGO CRIATIVO E DE QUALIDADE.
Deixo claro que as pessoas da direção e do corpo docente dessas escolas são profissionais da melhor qualidade e têm me dado o apoio necessário para desenvolver os projetos. O que eu proponho diretamente a eles é que vejam a minha participação no processo pedagógico com essas atividades extracurriculares, como algo diferenciado e
que talvez requeiram deles também, uma atitude diferenciada, para atrair os alunos desinteressados.(ZAN) Ilustração: Netto de Deus