Andou por aqui em junho nos festejos um amigo que não via há uns bons trinta e tantos anos. Desses amigos que reencontramos através do blog Bitororocara. Antes de vir trocamos e-mail. Ele me dizia que viria porque queria me reencontrar depois de tantos anos. Trouxe consigo uma foto que eu já nem me lembrava mais que existia, de quando nos encontramos em São Paulo, capital, nos idos dos anos 70. Horácio é o nome dele, irmão do De Paula, velhos companheiros do sofrimento de fazer o saudoso jornal A LUTA, junto com Severo, Carioca, Milanês e quantos outros. Na última vez que nos vimos aqui me deu um texto escrito num papel, do qual transcrevo trechos onde fala de fatos que eu não me lembrava mais, como quando ele começou a trabalhar no jornal como gráfico.
“Existem pessoas em nossas vidas que nos deixam felizes pelo simples fato de terem cruzado nosso caminho.
Às vezes por ter me dado um minuto de sua atenção e me ouvido falar de minhas angústias.
E amigos de verdade ficam para sempre em nossos corações, assim como as pegadas na alma são indestrutíveis.
Nesse caminho cruzei com Zan e num momento de impulso lhe abordei na sua bicicleta ali próximo ao Mercado Velho.
Foi um impacto de improviso, pois meu objetivo era lhe pedir uma vaga para trabalhar no Jornal A Luta. Zeferino concordou em conversar comigo no dia seguinte lá na sede do jornal, seria o meu primeiro emprego na cidade. Fui para casa com essa expectativa.
Cheguei ao jornal ali na avenida José Paulino nas primeiras horas da manhã do dia seguinte, logo depois chegou o Zan, cabisbaixo e coçando repetidas vezes os seus primeiros fios de barba branca, dirigiu-se ao canto da sala onde estava uma surrada e velha vassoura de palha de carnaúba que me entregou e disse:’comece por aqui varrendo a sala’... eu não me intimidei e obedeci a sua determinação.
Se naquele dia e momento eu tivesse ouvido um não, talvez fosse a minha maior decepção e frustração, tanto era o meu desejo de ingressar, talvez eu tivesse um dom natural de escrever e ler poesias e me admirava as matérias publicadas no jornal.
Guardo com gratidão e honradez esse gesto de atenção e bondade do Zan, ressaltando que na época do jornal A Luta, trabalhávamos com as ferramentas herdadas de Gutemberg, pois não tínhamos a tecnologia de BillGates.
Tínhamos sim, naquele jornal, muita energia de corpo e alma, coragem, diligência, zelo, ânimo, vigor, esforço individual e comprometeimento com a população local, cuja redação era composta por Totó Ribeiro, Octacílio Eulálio, Zeferino Alves Neto, Ernani Napoleão, Zé Branco, José Miranda Filho, Áurea Paz, Jesus Araújo, Jesus Paz, Teresinha Nascimento e tantos outros. Resumindo: adentrei-me no berço da cultura campomaiorense.
Caro Zan, é muito gratificante quando alguém não fale um Não e te dê uma oportunidade e com o passar dos anos, esse seu gesto de bondade ficou fixado na minha memória e na história do jornal A Luta.
Entendo que cada ser humano tenha o seu sentimento diferenciado e você fez a diferença a meu favor.
Se eu não tivesse ingressado no jornal ou ouvido uma negativa , talvez hoje, não tivesse aqui relatando essa pequena história real de vida e gratidão.
A minha última colaboração e empreitada pelo jornal A Luta, deu-se em janeiro de 1973, quando deixei a rua Cel. Eulálio Filho, antiga casa do Estudante, com profundas saudades e tristezas, dali para frente um futuro incerto e hoje sabido.
Caro Zan, a vida não é uma corrida, mas sim uma viagem que deve ser desfrutada a cada passo. Lembre-se, caro Zan, ontem é história, amanhã é mistério e hoje é uma dádiva, por isso se chama PRESENTE”
Horácio,
Junho/2009.”
GRANDE HORÁCIO, VOCÊ ME DEU UMA FACADA NO PEITO, COMPANHEIRO...
Nesta foto que tiramos no Parque da Luz, em São Paulo, por volta de agosto de 1973, em que estamos além de mim e você, os conterrâneos Miguel Ribeiro, Carlos Amaral e Dora Ibiapina, quanta lembrança daqueles tristes anos de sofrimento naquele fim de mundo que era e é São Paulo, eu magérrimo, me recuperando de uma gripe de quase me leva pro túmulo (talvez não tenha morrido porque apareceu lá na quitinete em que dividíamos nossa saudade apareceu o Dora Ibiapina fazendo aqueles bolinhos de farinha com ovo que aos poucos me levantaram as forças pra que os remédios que eu tomava fizessem efeito...) Dora deve ta no céu com aquele seu jeitão tranqüilo e sorriso maroto de amigo e companheiro... Miguel e Carlos estão por aqui por perto. Você continua heroicamente resistindo em São Paulo. Cara, é impossível controlar as lágrimas enquanto digito este texto. Sinal de que ainda estamos vivos e viveremos por mais uns decênios, pelo menos... (ZAN)
Desses quatro aí o primeiro que encontrei em São Paulo foi o Miguel Ribeiro, que entregava cartas na região onde eu morava, ali pelo Bom Retiro, Campos Elíseos. Convidei-o pra morar na quite que tinha alugda. Depois vieram o Carlos e o Horácio. O Dora apareceu por lá com o Chico Barros (tinham ido buscar um caminhão para o Dr.Sigefredo, se não me engano).
ResponderExcluirHorácio, quantas recordações você trouxe à minha mente e ao coração velho, por relembrar os tempos do jornal "A LUTA". O slogan: "Luta para escrever, luta para encontrar matérias jornalísticas, luta para compor (material gráfico), luta para conseguir anunciantes, luta para vender, luta para obter dinheiro..." Mas foi uma fase para nunca ser esquecida por mim. Época em que fiz boas amizades e me soltei mais dos limites restritivos do lar e do acanhamento (se bem que já estivera atuando na Rádio Clube de Campo Maior, outra etapa que recordo com especial carinho). Com alguns do grupo jo jornal eu já tinha relacionamento. Com outros, não; foram amizades novas, sentimento que perdura em mim, não sei se nos outros também; não posso falar por eles. Foi um grupo, uma irmandade, de ótima convivência, unindo-se trabalho, compreensão, afeto, diversão. O resultado, fruto saboroso, suponho, foi o reconhecimento de muitos leitores e incentivadores. Você, Raimundo HORÁCIO de Lima, está inserido na história d'A LUTA, como excelente integrante do seu quadro de LUTADORES.
ResponderExcluirTenho a honra de ser primo dos dois, do Raimundo Horácio pelo lado paterno e do Zeferino pelo lado materno. Lembro-me que quando menino o Raimundo nos mandava alguns exemplares do Jornal A LUTA. Toda essa historia de voces eu ouvi falar. E para mim é motivo de orgulho ser primo destes dois intectuais de Pedro II e Campo Maior.
ResponderExcluirMestre José Miranda, aprendi muito com você, via o seu esforço incansável na preparação de material, acredito velho amigo, que vencemos a batalha e deixamos histórias na cultura campomaiorense, regozijo a todos aqueles lutadores. Não tenho palavras para lhe agradecer, só bondade sua.
ResponderExcluirPrimo Afonso Celso tem razão, todas às vezes que ia a Pedro II levava a tiracolo um exemplar do Jornal A Luta. AC, cara te vi na correria, nem deu tempo pra tomar uma gelada, vamos deixar pro próximo festival de inverno.
ResponderExcluirabç